Por Michele D'Ippolito*
Nos últimos dois anos, consolidou-se no varejo global a tendência de foco em estratégias de omnichannel. É possível afirmar isto a partir de cases como Amazon Go e a consolidação do Magazine Luiza na liderança do setor no Brasil. Mas há ainda outras evidências fortes: quando o assunto é o ticket médio, relatório recente do IDC Retail mostra que estratégias de omnichannel incrementam algo entre 15% e 35% o valor das vendas. Nos Estados Unidos, segundo outro estudo, este do Criteo, consumidores omnichannel representaram 27% das compras totais em 2017.
Some a estes indícios alguns fatores cruciais para o varejo ser competitivo, como agilidade na entrega e uma operação logística sustentável. No primeiro caso, a maior parte das entregas são feitas após 48 horas da compra, o que inibe exponencialmente o potencial da venda online, que também é impactada pelo alto valor do frete. O segundo ponto está totalmente relacionado ao primeiro. Como oferecer frete grátis e viável em um momento em que as cidades cada vez mais restringem a circulação de veículos de carga? Ou então como atender regiões muito afastadas dos grandes centros?
É neste cenário que o omnichannel entra como uma solução com potencial para se tornar a principal estratégia do varejo. Lojas físicas tendem naturalmente a se transformarem em estoques avançados. Mas há ainda um potencial enorme a ser explorado: garagens comerciais com alta ociosidade.
Para se ter uma ideia, de acordo com um estudo feito pela POLI, startup focada em levar inovação para o segmento de estacionamentos, 25% da área construída da cidade de São Paulo é de garagens. Boa parte delas tem um ociosidade média de cerca de 40%. Para o varejo, elas representam uma solução interessante para alguns de seus principais gargalos.
Por quê?
- localização privilegiada, em pontos valorizados das cidades e, por consequência, com maiores chances de serem próximos ao varejo ou consumidor final, reduzindo, assim, o tempo e valor de entrega;
- potencial para reduzir drasticamente uma das principais dores dos operadores de logística: as multas de trânsito. Dados do Sindicato das Empresas de Transportes de São Paulo indicam que na capital paulista mais de 70% das multas de trânsito do setor estão relacionadas à circulação em horários não permitidos e estacionamento irregular;
- tornar a operação logística mais ambientalmente sustentável. Ao abastecer centros de armazenamento avançados em garagens, o varejo permite que o chamado last mile seja feito por bicicletas ou motos, opções com menor emissão de poluentes e mais adequadas ao trânsito das cidades, gerando um impacto significativamente menor na vida das pessoas;
Todos os elementos, dos novos modais de transporte, passando por garagens ociosas em bairros valorizados, à demanda do varejo e de clientes por melhores serviços, estão na mesa. Cada vez mais as soluções terão de trazer criatividade ao setor, pois está claro que os clientes não estão dispostos a pagar e nem esperar muito por um produto. Muitas vezes ele até se dispõe a buscar o produto em um ponto próximo, mas esta experiência precisa ser funcional e agradável.
A sacudida recente do setor causada com a chegada da Amazon no Brasil é uma evidência de que há muita inovação por vir. Quem ganhará é o consumidor e as empresas que se posicionarem.
*Michele D’ Ippolito é CEO e um dos fundadores da Unpark, startup focada ressignificar a utilização das garagens e líder no desenvolvimento de smart lockers no Brasil
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